As crianças e o consumismo
Até pouco tempo atrás, eu me gabava por entrar em qualquer tipo de loja ou supermercado com minha filha mais velha e não ouvir dela frases como “mamãe, compra este brinquedo”, “mas eu quero este biscoito”, “ah, meus amigos comem este salgadinho”. Doce ilusão a minha. Mal sabia que ela ainda não tinha noção que estava formando opinião sobre o mundo consumista em que vivemos.
Sempre aprendi desde pequena (e meu marido também) que não podemos ter tudo o que queremos. A vida é assim! Mas como passar essa informação às crianças hoje em dia em que tudo parece (e é, em alguns casos) mais fácil?
Mal sabíamos o quanto nossos pais sofriam cada vez que tinham, por qualquer motivo, que dizer não a algum pedido nosso. E hoje em dia a situação está pior.
As crianças são bombardeadas com informações na televisão, na escola ou em qualquer passeio de damos pela cidade. Diferentemente de nossa infância, a meninada de hoje tem opinião formada e sabe argumentar. São brinquedos, roupas, calçados, alimentos, viagens inseridos no dia a dia dos pequenos. Aonde vamos parar?
Num certo momento, não pude autorizar que minha filha participasse de uma excursão da escola e fui abordada por um funcionário dias depois que argumentava que minha filha havia ficado muito triste e que eu “não podia frustá-la dessa maneira”.
Como é que é? Alguém da própria escola pensando que uma criança não pode em algum momento da vida aprender que não terá tudo que quiser? Que tipo de adulto estamos criando, então?
A vida é inundada de frustrações e, em minha concepção, como alguém responsável por duas vidinhas, tenho que prepará-las para isso. Com calma e argumentos guardados na manga, pretendemos explicar e ajudá-las a entender que certos objetivos “materiais” são desnecessários, parte de um ciclo vicioso que não tem fim. Não significa não realizar algum sonho ou desejo, mas ter certas coisas na devida hora e condições. Saber lidar com essa frustração é de suma importância para talhar seu caráter para a vida que terá quando adulto. Aprender com uma derrota e saber como superá-la é parte do aprendizado caso não queiramos criar “adultos infatilizados”.