Pensamentos de uma “não mãe”
Antes de ser mãe, costumava dizer em alto e bom som que quando tivesse filhos eu não deixaria isso ou aquilo acontecer, faria assim e não “assado”. Depois de tornar-se mãe mordi a língua várias vezes por causa do que eu havia dito.
Quem nunca viu seu filho se jogar no chão no meio do mercado, do shopping, da rua? Ou jogar a comida longe porque você não deu o que ele queria comer? Ah, antes da maternidade eu dizia: “se não quiser comer, vai ficar com fome”, “fez birra, vai levar uma palmada, porque é assim que se resolve falta de educação”. Mas só depois de ser mãe compreendi que a coisa não é tão simples assim.
Quando tinha uns dois anos de idade, minha primeira filha resolveu bater o pé e se jogar no chão no meio de um shopping. Não pensei duas vezes: deixei-a jogada no chão e saí andando. Até que ela notou que os pais não estavam por perto para “assistir ao show”, levantou-se sozinha e veio nos procurar. Mas sei que muitas pessoas sem filhos que viram aquela cena pensaram que eu não havia dado educação para minha filha – eu pensava assim antes.
Só agora tenho ciência que algumas coisas fogem do seu controle completamente, não tem nada que você faça ou deixe de fazer que melhore ou piore a situação. Eles vão bater o pé, gritar e chorar e se jogar no chão e ponto. Depois desse episódio, minha filha mais velha nunca mais se jogou no chão ou gritou em público, acreditem. No entanto, minha filha mais nova faz isso com frequência.
E a educação é a mesma, a postura e o discurso são os mesmos. Claro, cada criança nasce com sua personalidade, mas até você compreender um pouco a respeito do assunto e parar de se culpar ou se auto criticar, alguns episódios já se passaram.
E quanto a alimentação? Que loucura! Eu amamentei muito pouco minhas filhas, infelizmente. Sofri muito por não ter conseguido amamentar o quanto eu queria e fui muito “cobrada” por isso, mas esse é um outro assunto. Só que não sabia que isso refletiria no modo como passei a me comportar com relação a alimentação delas, ou melhor, da minha mais velha (os mais velhos, sempre as cobaias). Entrava em desespero quando ela se recusava a comer, pensava em alternativas, chorava durante a refeição sem me dar conta que ela é um ser humano que, como qualquer outro, pode estar indisposto, sem fome, ou, simplesmente, está sem vontade de comer arroz e feijão naquele dia. Um prato de macarrão cairia melhor.
Nunca fui baladeira, mas sempre gostei de sair para jantar, ir bater papo num barzinho e daí dizia que meus filhos me acompanhariam desde cedo nestes momentos. É mesmo?
Em primeiro lugar, depois que tive minhas filhas, a única coisa que quero pensar em fazer depois das 22 horas é dormir! E, muito além disso, aprendi que a criança precisa ser respeitada, assim como eu respeito e quero ser respeitada pelas pessoas que passam por mim em meu dia-a-dia. É dando o exemplo que elas vão aprender. Se minhas filhas sentem sono a partir das 21 horas, porque vou submetê-las a uma noitada num bar? Eu não gostaria que fizessem isso comigo, porque com uma criança deve ser diferente? Também só entendi esse outro ponto de vista depois que fui mãe.
Minha vida de “não mãe” não voltará nunca mais (ainda bem!) para eu retirar o que havia dito a respeito de criação de um filho. Mas digo para minhas amigas que ainda não têm um “projeto de gente” em suas vidas: você vai sim, em algum momento, colocar seu filho para dormir na sua cama; passar a noite em claro porque ele está com febre; deixar que falte na escola só para curti-lo um pouquinho mais; vai fazer macarrão sem molho nenhum para agradá-lo; vai mandar todo mundo para a cama mais cedo porque está exausta e precisa descansar; vai chegar atrasada no trabalho porque a madrugada foi dura e vocês perdeu a hora; não vai esperar a febre passar de 72 horas para ligar ao pediatra ou levá-lo ao pronto socorro. Quem sabe, você ainda vai sentar no chão do shopping ao lado do seu filho fazendo birra só esperando a gritaria passar.