Aquele xixi que escapa na criança pode não ser apenas preguiça
Distúrbio chamado de enurese envolve outros fatores e atinge a faixa dos cinco aos 12 anos de idade
Desde que o bebê nasce, os pais acostuman-se com fraldas encharcadas, colchões molhados, vazamentos desagradáveis durante uma ida ao restaurante, uma lista sem fim de acontecimentos. Quando o desfralde começa, a situação se agrava: lembro que minhas filhas pareciam bichinhos de estimação “marcando o território” dentro de casa, um sufoco. No entanto, passados alguns meses de aprendizado e vem o alívio. É claro que um xixi acaba escapando aqui, outro acolá, mas tudo entra nos eixos gradativamente.
Mas há algumas crianças que mesmo após os cinco anos de idade continuam soltando o xixi durante a noite e até mesmo de dia. Sabemos que existem alguns fatores como ciúme (quando chega um bebê novo na família), insegurança, preguiça, entre tantos outros que podem levar a esses momentos embaraçosos, não somente para os pais mas principalmente para os pequenos. Todavia, é necessário ficar atento a algo um pouco mais profundo como o distúrbio chamado enurese (existe a diurna, noturna, polissintomática) que acomete crianças geralmente entre os cinco e 12 anos de idade e o nome mais comum desse distúrbio é o xixi na calça ou na cama. Aproximadamente 10% das criancas nesta faixa etária sofre com esse transtorno, segundo estudos.
As razões são inúmeras, vejam:
- incontinência urinária – sabe quando a criança até percebe que precisa fazer xixi, mas não dá tempo de chegar ao banheiro? Está aí, pode não ser uma simples preguiça;
- retenção da urina – quando os pequenos não querem parar de brincar e ficam se contorcendo? Pois então, fazer disso uma rotina pode levar a enurese diurna;
- mudança na frequência que a criança faz xixi e na quantidade – ir muitas vezes ao banheiro, soltar pouco xixi e reclamar de dor podem ser problemas ligados a esse distúrbio;
- dificuldade de evacuar – não é tão comum, mas pode ser uma conexão com a enurese, sim;
- infecção urinária – por fim, se a criança vem apresentando vários casos de infecção urinária, pode também indicar que esteja com o distúrbio.
Por isso, é importante acompanhar o desenvolvimento da criança bem de perto, apesar de um pouco mais difícil conforme elas crescem e vão se tornando independentes.
“O impacto da enurese na qualidade de vida e autoestima da criança é grande e, quando está associada à sintomas diurnos, a consequência tende a ser ainda maior, pois dobram as chances de eventos constrangedores, como na escola, por exemplo. Por isso, ao detectar qualquer um dos sinais de problemas urológicos elencados acima, é essencial procurar um médico para o diagnóstico e tratamento correto”, afirma o urologista pediátrico do Hospital Sírio-Libanês, Bruno Cezarino.
Certa vez ouvi de uma médica que nunca devemos subestimar as reclamações e sintomas de uma criança. Por trás de um xixizinho que escapou no parque, durante uma sessão de cinema em casa, pode ter algo um pouquinho mais complicado que uma suposta preguiça em alguns casos.