Internet: vilã ou mocinha?
Estamos cada vez mais conectados e isso é um caminho sem volta, mas será que não existe um limite ideal?
Hoje em dia quem tem mais de 30 anos é considerado da velha guarda. Os que nasceram antes dos anos 80 cresceram brincando na rua, jogando bolinha de gude, empinando pipa, sumindo pela vizinhança por longos períodos do dia.
Hoje em dia essa geração tornou-se pai e mãe e tem encontrado dificuldade de lidar com as abruptas mudanças em sua volta. Pelo menos Ricardo e eu nos sentimos assim. Lembramos quando o problema era querer tocar uma música rebelde e em alto som em casa ou sair para uma matinê na ‘Up & Down’. Vou parecer minha avó mas, ah, como eram tempos mais simples.
Nos anos 90 fomos apresentados à internet, ao celular e de ano em ano aos imensos avanços tecnológicos. Tudo isso para dizer que a criança do século 21 já nasce conectada, sai da barriga da mãe com câmeras e celulares sobre ela, quando o nascimento não é registrado ao vivo para a família que estiver no hospital. Em casa o tempo de sono, das mamadas, das trocas, a temperatura do alimento, da água do banho, tudo é medido e calculado eletronicamente. Enquanto é amamentada, a mãe ou o responsável pela criança está com o celular em punhos ou o tablet (isso não é condenação, é fato, passei por isso também), afinal é muito mais fácil ler num gadget do que segurar um jornal ou livro nessas horas.
Hoje em dia, é claro, nossos filhos necessitam da tecnologia para estudar, crescer e desenvolver-se. Mas onde está o limite entre o que é normal e o que é o exagero? Como estabelecer um equilíbrio?
Sempre fomos um pouco reticentes em casa com relação aos aparelhos eletrônicos, mas agora, ainda mais no meio de uma pandemia, ficamos numa sinuca de bico. As meninas precisam do computador para estudar diariamente, o problema é fazê-las entender que continuam precisando escrever, não somente digitar, ler no papel, não apenas no computador ou no celular, conversar com a pessoa que está em sua frente e não exclusivamente com o amigo que está conectado no Whatsapp, no Facetime, naquele bendito jogo que todo mundo joga online (oh saudades do Atari).
Saiu uma pesquisa no Basil, a TIC Kids Online, feita pelo CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil) que desde 2012 divulda os dados de uso da internet pelo público entre 9 e 17 anos de idade. Nesse último levantamento, a pesquisa mostrou que nesta faixa etária 86% teve acesso à internet entre outubro de 2019 e março deste ano, contra 83% 2018. A maioria, 94%, têm conexão em casa. Só 1,4 milhão nunca teve acesso e 3 milhões não são usuários.
Juntamente com a pesquisa levantaram-se alguns dados alarmantes com relação ao abuso dos eletrônicos, dê uma olhada abaixo:
Olho seco
A pesquisa do CGI feita com 2.954 participantes e seus respectivos responsáveis mostrou que entre os 11 e os 17 anos de idade, 1 em cada 4 são viciados na internet, não consegue controlar o tempo de navegação e desenvolve olho seco. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier os sintomas são: vermelhidão, visão embaçada, sensação de areia nos olhos e dor de cabeça no final do dia. Isso acontece porque piscamos menos na frente das telas e a lubrificação dos olhos diminui. O tratamento, explica, pode ser feito com colírio lubrificante ou três aplicações de luz pulsada para estimula a produção da lágrima, conforme o estágio da doença.
Falta de sono
20% dos participantes disseram que deixam de dormir para navegar. “A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza que a falta de sono aumenta a obesidade, o risco de alterações emocionais, o stress oxidativo e a resistência à insulina que leva ao diabetes. Não são problemas de saúde que surgem imediatamente. O efeito da falta de sono é cumulativo e por isso, nem sempre é levado a sério, da mesma forma que a falta de proteção contra a radiação UV (ultravioleta) emitida pelo sol”, afirma.
Uma dica do oftalmologista para evitar a insônia é desligar o celular ou computador, no mínimo, uma hora antes de ir dormir. Isso porque as telas emitem luz azul que inibe a produção da melatonina, hormônio indutor do sono. Outra é verificar se o celular tem filtro de luz azul embutido ou baixar o aplicativo F Lux.
Depressão e ansiedade
A pesquisa também alertou para alguns sinais de ansiedade e depressão desenvolvidos pelos participantes. Cerca de 21% diz sentir-se mal quando não está na internet ou se pega navegando sem o menor interesse e 24% acredita que passa menos tempo do que devia com os familiares, amigos ou estudando, claros sinais de ansiedade e depressão. “São alterações que precisam ser tratadas com um especialista em doenças psíquicas”, afirma. Vale lembrar que o tratamento com medicamentos antidepressivos deve ser acompanhado também por um oftalmologista. Isso porque, nosso olhos têm receptores de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) contidos nos antidepressivos e ficam 15% mais propensos a desenvolver a catarata que têm como único tratamento a cirurgia.
Cabe a nós, pais e responsáveis dar o exemplo e ajudar os pequenos a entenderem os limites e a importância do equilíbrio.