Miopia na infância: quarentena pode aumentar risco, afirma médico
Falta de vitamina D, motivada pelo isolamento social, e excesso de uso de aparelhos eletrônicos contribuem para o fenômeno
No começo não percebemos que havia algo errado, mas com o tempo notamos que certos textos distantes passaram a não ser percebidos pela nossa filha mais velha. Logo até mesmo algumas expressões na televisão, por exemplo, deixaram de ser visíveis para ela. Não que isso nos tenha surpreendido, afinal tanto eu como a Renata temos problemas de visão, então parecia ser uma questão de tempo para que a miopia surgisse em nossas filhas.
Infelizmente, a pandemia do coronavírus tem dificultado consultas médicas de qualquer especialidade. Se o problema não é grave o jeito é ter paciência até conseguir levá-la a um oftalmologista. O que não sabia é que a miopia pode ter se intensificado justamente por conta da quarentena em que vivemos há dois meses. O artifo, do doutor Leôncio Queiroz, me chamou a atenção ao associar o isolamento social com a saúde dos olhos das crianças.
Segundo o oftalmologista, o problema envolve a deficiência de vitamina D, que é obtida de forma natural pela exposição ao sol. Já havia lido que manter os níveis dessa vitamina mais altos seria ideal inclusive para evitar infecções e manter o bom humor, mas não imaginava que ela também afetasse esse problema tão comum.
Como se sabe, a miopia aparece com certa frequência na infância ou no início da puberdade. É causada por fatores genéticos e ambientais que fazem o olho crescer mais que o normal. “Por isso, as imagens se formam à frente da retina e os míopes enxergam tudo o que está distante embaçado”, esclarece.
Segunda estudos científicos recentes, também a córnea (e não é só a pele) produz vitamina D quando tocada pela radiação UVB (ultravioleta do tipo B) emitida pelo sol. Outra novidade é que a vitamina D regula mais de 900 pares de genes, podendo, portanto, estar associada ao fator genético. Outros estudos também associam o controle da miopia às atividades externas. “Isso acontece porque o sol aumenta a produção de dopamina, hormônio do bem-estar que ajuda a controlar o crescimento do olho”, pontua.
Queiroz Neto afirma que em muitos países, incluindo o Brasil onde não são produzidos alimentos fortificados com vitamina D, o sol responde por mais de 70% da substância circulante no organismo da população. Por isso, as crianças devem ser estimuladas a tomar 15 minutos de sol por dia sem usar filtro solar, mesmo que seja na varanda de um apartamento, durante a quarentena. Aqui na Inglaterra, o tempo está favorável para ir para a rua, com dias quentes para os padrões europeus e bastante sol.
O perigo das telas dos gadgets
Além do isolamento social, um fenômeno mais recente, há outros fatores que aumentam os casos de miopia no mundo, o tempo em que passamos em frente a aparelhos eletrônicos como celulares, tablets, computadores e a TV. Segundo um levantamento realizado pelo oftalmologista no hospital com 360 crianças de 6 a 9 anos, as telas digitais usadas por até 6 horas contínuas praticamente dobram os casos de miopia. No grupo passou de 12% para 21%.
O oftalmologista explica que o celular e outras tecnologias provocam miopia acomodativa, uma dificuldade temporária de enxergar à distância. decorrente do excesso de esforço visual para perto. O doutor Queiroz recomenda que os pais fiquem atentos a alguns sinais como assistir TV muito próximo, fazer careta para enxergar algo distante, dor de cabeça no final do dia e súbito desinteresse por atividades esportivas.
A miopia acomodativa pode ser corrigida até 8 anos de idade, quando o olho completa seu desenvolvimento, com descanso de 15 a 30 minutos a cada hora em frente a uma tela digital. Depois dessa idade passa a ser um mal permanente que necessita de acompanhamento oftalmológico.
O oftalmologista recomenda desligar todos os equipamentos de informática duas horas antes de dormir. A explicação é que a luz azul emitida pelas telas digitais tem o mesmo comprimento da luz invisível que predomina durante o dia. Por isso, diminui a produção de melatonina, hormônio indutor do sono, provocando insônia e também interferindo na saúde óssea, metabolismo cardíaco, desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras.