O que você quer ser quando crescer?
Nova realidade no mundo dificulta qualquer orientação como a que recebemos de nossos pais, mas vislumbram-se outras perspectivas instigantes
Na infância de quem está na casa dos 40 a 50 anos, o futuro era algo mais palpável e o caminho, bastante claro. Estudava-se para cursar alguma faculdade e ter uma profissão que garantisse um emprego por muitos anos para acumular patrimônio e uma aposentadora tranquila. Era a visão que nossos pais nos passavam, baseada na experiência que eles tiveram de trabalhar logo cedo e agarrar oportunidades mesmo sem conseguir chegar ao ensino superior em muitos casos. Nossa geração, no entanto, tem colhido frutos diferentes nos últimos anos, confrontada com a mudança nas relações de trabalho, nas atividades profissionais e até no custo de vida das grandes metrópoles.
Parecia, no entanto, que o futuro nos reservava coisas grandes. O mundo se preparava para uma grande mudança na virada do milênio, com a popularização dos computadores e mais tarde da internet e os smartphones, apenas para citar alguns avanços tecnológicos. O que muitos não sabiam é que essa mudança trouxe outros desafios, sobretudo a partir de 2013 no Brasil.
Quantas pessoas ao nosso redor não precisaram e ainda precisarão mudar sua forma de trabalho ou mais, a maneira de enxergar a vida, mudar de carreira, pensar completamente fora da caixa para conseguir seu ganha pão? Em minha família há algumas pessoas que já passaram por essa transformação. Alguns se tornaram confeiteiros, organizadores de festa, empreendedores no segmento de bichos de estimação e aqui falo em casos bem sucedidos, não apenas “bicos” temporários.
Por outro lado, há os que que não conseguem se desvincular da “segurança” de uma carteira profissional assinada, do entra-e-sai do escritório, do horário fixo de trabalho e até do trânsito para deslocar-se nos horários de pico. Passam tempo pesquisando e procurando novos empregos, pagando por head-hunters, desgastando-se em longos processos seletivos, voltando a estudar, o que é excelente, mas às vezes numa luta em vão, que causa grande desilusão, desgaste emocional e perda de tempo.
O exemplo de hoje é o dos pais que foram demitidos e, depois de uns dias de preocupação e tristeza, levantaram-se e começaram com paciência e humildade uma nova direção profissional, provavelmente como autônomos, fazendo home-office e se dividindo entre trabalho, deveres de casa e educação dos filhos. Além de tudo, precisam manter dinheiro reservado justamente para os dias turbulentos.
O ponto é que nossa mentalidade e modo de vida precisam mudar para conseguirmos direcionar e dar exemplo aos nossos filhos, pois o futuro deles será mais complexo do que passar numa faculdade qualquer, fazer um MBA e entrar num bom programa de trainee para seguir uma carreira de sucesso em alguma grande corporação.
As profissões e a maneira de trabalhar já começaram a mudar assim como a forma de aprender. Quem nunca teve dificuldade de acompanhar as lições de casa dos filhos hoje em dia? Às vezes preciso me preparar para compreender como elas estão aprendendo e então conseguir ajudá-las e mesmo assim ainda absorvo mais com elas, quebrando a cabeça juntas.
Nunca aprender e ter acesso à informação foi tão fácil, mas a educação atual exige algo que as crianças hoje têm certa dificuldade, a disciplina. O mundo em que vivemos hoje está pregando o descartável: experimenta-se algo um pouco e ao primeiro sinal de dificuldade desistimos e partimos para outra atividade. É preciso incutir em nossos filhos um pouco de obstinação e objetivo para que completem ciclos necessários para entender o funcionamento do mundo, desde coisas triviais a aspectos complexos da sociedade.
Por outro lado, felizmente hoje é possível pensar não em uma, mas em várias carreiras, paralelas ou subsequentes. Nada impede uma pessoa de aprender e utilizar várias habilidades, algo que era pouco valorizado antigamente, onde o “especialista” era o rei. Agora mais vale ter múltiplas capacidades e uma visão global dos problemas e soluções. E em vez de passar décadas fazendo quase o mesmo trabalho, a carreira profissional pode ser algo instigante e desafiador.
Talvez a pergunta que nós devemos fazer para os nossos filhos deixe de ser “o que você quer ser quando crescer?” para questionar “quais realizações você quer alcançar durante sua vida?”.