Porque os bancos brasileiros são os piores do mundo para seus clientes
Enquanto em nosso país pagamos taxas para qualquer coisa e temos um serviço ruim, no Reino Unido os bancos se satisfazem em apenas guardar nosso dinheiro. E funcionam bem
Não, não sou economista e confesso que nem tenho como provar que o sistema bancário brasileiro é o pior do mundo, mas foi essa a sensação ao descobrir que aqui no Reino Unido os bancos funcionam muito bem e não lhe cobram nada por isso. É isso mesmo que você leu: não há qualquer taxa mensal ou para realizar uma operação como fazem Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil.
Para os bancos britânicos, o fato de você deixar seu dinheiro sob a responsabilidade deles é suficiente para que consigam gerar lucro com ele. Ou seja, ganham emprestando e com juros bem mais realistas que no Brasil. Aliás, cansei de ler artigos que tentam entender porque os bancos brasileiros são tão lucrativos, seja com a economia do país crescendo ou em crise. Os argumentos da Febraban, entidade que os reúne, são sempre de cortar o coração: inadimplência alta, custos elevados, impostos, burocracia e por aí vai. Os governos, por sua vez, se sucedem, sejam de direita, esquerda ou centro, sem que o Banco Central consiga de fato ampliar a concorrência no setor.
Fato é que, para nós consumidores, o serviço bancário é um mal necessário, mas poderia ser diferente como ocorre aqui. Quando chegamos em Londres não levou mais que três semanas até conseguirmos abrir uma conta no HSBC (foi o que nos recebeu melhor, mas poderia ter sido outro). A demora só não foi menor porque nos faltava o principal, um endereço em nosso nome. Não precisamos comprovar renda nem depositar um centavo na conta, bastou dizer qual era nosso ganho mensal e pronto. Recebemos cartões de débito e crédito com bom limite e com sistema “contactless”, que funciona por aproximação sem necessidade de digitar a senha em compras de até 30 libras.
O primeiro contato físico com a agência foi chocante, a começar pelo fato de não existirem portas automáticas ou giratórias nem detectores de metal, quanto mais um segurança fazendo você despejar moedas, celular e qualquer coisa que pudesse acionar o alarme. Você entra no banco como acessa uma loja qualquer. A agência em questão é minúscula, com apenas dois guichês e três ou quatro funcionários.
Embora exista uma certa burocracia britânica envolvida, como no fato de se usar muito o correio para envio de extratos, balanços ou qualquer comunicação, o funcionamento não difere muito do Brasil. Mas é na ausência das absurdas taxas que o banco britânico se difere tanto do seu congênere brasileiro.
Ainda mantemos conta aberta no país e por isso sentimos o desgosto de utilizar esses serviços a começar pelo pacote mensal que se paga para muitas vezes não usar quase nada. Não emitimos uma folha de cheque há anos, mas ele está lá incluído no tal “pacote”. Já se fizermos uma TED a mais do que o limite, pronto, mais R$ 10 debitados na conta, não importa se outros serviços inúteis não foram utilizados.
Até na integração com outros bancos a situação é oposta. No Brasil, embora exista a rede 24 Horas, normalmente utilizamos os caixas do nosso próprio banco em shoppings, supermercados e outros pontos movimentados, sempre, é claro, cercados por biombos, portas blindadas e tudo mais. Na Inglaterra, por sua vez, a presença de caixas automáticos é imensa e você pode usar qualquer um sem cobrança de taxa, não importando o banco em questão. De quebra, os tais caixas ficam em ruas abertas, à vista de todo mundo. Claro que nesse caso não se trata de culpa dos bancos (acho) e sim da segurança pública. É realmente de chorar de raiva…
Câmbio
Mas e se você precisar emprestar dinheiro do banco inglês, como faz? Sem mistério. O banco central do país limita o abuso do cheque especial, por exemplo. Existe uma preocupação com a educação financeira de forma que o próprio banco busca evitar que você entre no negativo. Mesmo assim, até 25 libras não há cobrança de taxa. Por falar nela, no HSBC é de 39,9% ao ano contra 150% no Brasil, pelo que li recentemente. Aliás, nosso país inventou até uma jabuticaba bancária, a taxa do cheque especial mesmo que você não use. Daí a gente deduz que há algo de muito errado com os bancos brasileiros.
Já me dava como satisfeito e aliviado por não sofrer em manter uma conta bancária, mas eis que para minha surpresa surgiu a necessidade de realizar transações de câmbio para receber os ganhos do programa Adsense do Google. Em nosso país, o pagamento por publicidade gerado pelo gigante de TI é feito em dólar, ou seja, é preciso realizar uma operação de câmbio com seu banco ou alguma corretora. Com isso, pagamos mais taxas, que podem ser calculadas sobre o valor recebido e comerem parte dos seus ganhos. Quando fui fazer o mesmo aqui, adivinhem, nada de taxa, o dinheiro é creditado integralmente na conta. O Reino Unido tem ainda outra vantagem, a de permitir que você mantenha o dinheiro em outras moedas caso não queira convertê-lo em libra.
Lucrar, sim, mas prestando um bom serviço
Minha queixa contra os bancos no Brasil é bastante objetiva: o lucro tem de ser uma consequência e não um fim. Em outras palavras, bancos (e qualquer outro tipo de empresa) devem prestar um bom serviço e por isso lucrar e não ganhar em qualquer situação, mesmo sendo péssimos no atendimento e cobrando caro por isso. O que vemos em nosso país é um setor que se acomodou a lucrar sempre e evitar concorrência. É um lobby sem tamanho e ainda mais absurdo por ser uma concessão pública.
Nesses casos, é dever de qualquer governo aumentar a competitividade e permitir que outros concorrentes entrem no jogo, mas quase nada acontece. As fintechs estão aí tentando mudar esse panorama, mas ainda carecem de condições para enfrentar esses gigantes. Enquanto isso, faça chuva ou faça sol, os bancos no Brasil têm seu lucro garantido às nossas custas.