Preconceito na pele
Hoje em dia procuro não ser tão convencional em matéria de estilo. Gosto de combinar roupas e apetrechos sem preocupação em seguir alguma tendência, coisa que só com mais idade consegui fazer. E o principal: sem me importar com a reação das pessoas. E olha que desde que me conheço por gente vejo pessoas sofrendo preconceito por ser negro e até ser muito branco; pobre ou rico; esquerda ou direita; se é adepto de uma religião diferente das mais populares, enfim, uma imensa intolerância.
Mas nem sempre foi assim. Lá longe, no auge dos meus 12 aninhos, eu me revirava para ser aceita numa escola de classe média alta (sendo que em casa nunca tivemos grana de sobra – era o dinheiro para as despesas de casa e das escolas e ponto) e nos finais de semana, por participar de uma igreja num bairro carente da região em que morava, tentava me adequar para ser também aceita neste “outro mundo”. Na escola eu era a pobre e na igreja a burguesa, acreditem.
Mesmo tão nova eu levava tudo isso até que numa boa. Na verdade nem enxergava o preconceito, afinal de contas, situações como essas eram muito comuns em nosso dia a dia, não? E isso também me levou a não dar bola para as diferenças, além, claro, de aprender isso dentro de casa.
Doença terminal
Passados 30 anos, aqui estou eu me vendo entre olhares de preconceito novamente. Só que agora me senti no lugar de pessoas que passam por isso todos os dias.
Certo dia acordei cansada do meu visual e, simplesmente, decidi raspar minha cabeleira – que já estava curta. E a saga começou em casa. Sim, dentro da minha própria casa! Minha filha mais velha não acreditou: “mamãe, vocês está horrível”, disse em voz baixinha para tentar não magoar tanto a pobre mamãe. “Sabe, estou até com um pouco de vergonha de sair com você”. Eu a acalmei e disse que respeitava a opinião dela, mas isso não me machucava – para que ela ficasse tranquila.
Mas curioso mesmo foi a reação das pessoas nas ruas. Percebi gente desconfiada, olhares de reprovação (como se isso fosse sinal de outra inclinação sexual) e também que me visse com um certo olhar de pena imaginando ser aquele visual sinônimo de uma doença terminal. Foi a primeira vez que me senti e me coloquei no lugar de algumas minorias. No fundo eu não estava nem aí para esses olhares pois estou absolutamente de bem com a vida, mas fiquei imaginando passar todos os dias por situações em que você é encarado por sua aparência, por quanto “as pessoas acham que você tem na conta bancária”, pela doença que você realmente tem ou imaginam que possa ter. Como deve ser dolorido.
Realmente é um pouco difícil ignorarmos certas situações. Eu, por exemplo, não cheguei a ser uma “Sinéad O’Connor”, mas quase lá, e isso chama a atenção das pessoas. Mas nossas crianças devem aprender conosco que o mundo é feito de diferenças, as cores, as formas, os valores, são todos diferentes.
Ainda bem que elas existem. Imaginem um mundo inteirinho da mesma cor…que tédio seria.
Leia também: Com que idade meu filho pode ter um smartphone?
Adorei Re!
Difícil nos sentirmos “olhadas”…
Também sempre fui e ainda sou reconhecida “de longe”… o tamanho não esconde! Rsrsrs
Aprendi também a crescer assim… o “novo” bullying… antigamente levávamos mais na brincadeira e aceitavam muito mais quando dizíamos “pare, não estou gostando!”. Inclusive sempre tínhamos amigos para nos ajudar e apoiar….
Olhares desconfiados … não sabemos se nos olham com raiva, medo, se acham engraçado e talvez até criticar….
Acho mesmo que o importante é ser sincero e aprender a lidar desde cedo com as naturais diferenças ??